Você caminha pelo shopping e percebe que os casais estão diferentes.
Mulheres estão de mãos dadas com mulheres.Homens abraçam homens carinhosamente. E cada um provavelmente também faz o mesmo com o sexo oposto. É como se a modernidade tivesse atingido a casa dos romances de uma vez por todas - ou pelo menos a liberdade sexual deixou finalmente de ser tabu. O fato é que no meio dessa revolução, a bissexualidade ganhou espaço - e muitos ‘adeptos’.
O psicólogo Klecius Borges, de São Paulo, que atua principalmente como psicoterapeuta dedicado ao atendimento a gays, lésbicas e bissexuais, explica que bissexualidade como orientação sexual não é uma escolha e, portanto não esta sujeita a tendências. Não se trata de modismo, portanto.
“A orientação sexual se refere à orientação do desejo afetivo-sexual. A orientação bissexual é a expressão de desejo por ambos os sexos”, explica. Segundo ele, contudo, toda orientação sexual não é necessariamente fixa e pode sofrer mudanças ao longo do tempo.
Então, o que vemos pelas ruas e esquinas é provavelmente a manifestação de comportamentos bissexuais, reflexo da liberação dos costumes. “Pessoas curiosas ou em fase de exploração da sexualidade podem ter atividades sexuais com ambos os sexos, mas isso não caracteriza a bissexualidade como orientação”.
Como Klecius explica, o comportamento bissexual pode ser resultado de uma fase de experimentação sexual. Ele não tem necessariamente a ver com a predominância do desejo pelo mesmo sexo. “De maneira geral, a maioria das pessoas têm uma orientação predominante que se estabelece mais fortemente no início da vida adulta”.
Mas muitos jovens são hoje - reflexo talvez dessa nova manifestação de comportamento - bissexuais. Klecius, que trabalha ativamente com terapia afirmativa, alerta que não há opção em gostar ou não de ambos os sexos. E aí são os pais que se descabelam.
“A orientação sexual não é uma escolha. Se não for uma fase exploratória ou um comportamento transgressor, ou seja, for de fato a orientação sexual, não há o que fazer a não ser aceitar. Como isso não é fácil para nenhuma mãe, é importante que ela busque ajuda profissional”.
No caso das mulheres, o que acontece, muitas vezes, é que elas tendem a se envolver afetivamente também com outras mulheres, podendo ou não levar a uma relação homossexual. “Já as que de fato são bissexuais, podem amar e se relacionar tanto com homens quanto com mulheres. Os homens por outro lado, podem até se envolver sexualmente com outros homens (por exemplo, nas prisões) sem qualquer envolvimento afetivo”.
O trabalho de Klecius, autor do livro “DeSiguais”, consiste ainda em focalizar questões direta ou indiretamente ligadas à orientação homossexual. De forma ampla, ele procurar trabalhar o desenvolvimento da identidade e de um estilo de vida diferente da maioria. No trabalho específico, ensina aos pacientes como se assumir perante a família e os amigos, enfrentar as dificuldades nos relacionamentos familiares e afetivos, ou até os problemas no ambiente de trabalho.