Atrofia, ressecamento e afinamento da mucosa são consequências do envelhecimento vaginal
Dizem que o tempo é cruel. Afinal de contas, ele passa para todas as pessoas e traz consequências que são sentidas no físico e até no emocional. A passagem dos anos marca o corpo de maneira singular, vincando a pele que era viçosa e transformando os cabelos negros em fios grisalhos. Mas outras partes do nosso organismo também sofrem com o envelhecimento e nem todo mundo se dá conta disso. A vagina, por exemplo, sofre diversas alterações físicas e fisiológicas que interferem nas saúdes sexual e urológica.
Vagina atrofiada
Uma das principais ocorrências que o tempo traz para as mulheres é a menopausa, época em que cessa a produção de hormônios no organismo. E é justamente a falta do hormônio estrógeno que causa diversas mudanças na vida sexual e na vagina. Débora Pádua, fisioterapeuta uroginecológica da Clínica Dr. José Bento, da capital paulista, contou que a queda hormonal altera a espessura do canal vaginal, tornando-o mais fino e causando fissuras durante a penetração, o que causa muito incômodo durante o ato sexual. "O desconforto é sentido pelo casal, tanto pelo homem quanto pela mulher e muitas têm preconceito em usar lubrificantes e querem até desistir do sexo por causa da dor", contou.
Maria Luiza Mendes Nazar, ginecologista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, da capital paulista, disse que o ressecamento e a perda da capacidade de se contrair também são consequências que surgem da redução hormonal. "Assim como a pele envelhece, por falta dos hormônios a vagina sofre uma atrofia. O ressecamento é mais sentido durante o ato sexual, mas mulheres que não tem uma vida sexual ativa reclamam de uma coceirinha, como se a pele estivesse ressecada mesmo", contou.
Embora a palavra atrofia seja bastante forte, o problema pode ser tratado e as mulheres que têm dúvidas se a vagina está atrofiada ou não pode consultar o ginecologista para conferir o problema. Segundo Maria Luiza, o exame de Papanicolau, que é recomendado uma vez ao ano para todas as mulheres, em idade fértil ou não, costuma acusar o problema. "Muitas mulheres sentem também que a vagina está mais curta", contou a ginecologista.
Perda urinária
O envelhecimento vaginal prejudica consideravelmente a vida sexual, mas não apenas ela. Outra consequência da passagem dos anos nas partes íntimas é o afinamento da mucosa, que fica menos resistente, e o encurtamento da uretra. "Muitas pacientes chegam ao consultório se queixando de perda de urina em atividades simples, como espirrar ou tossir", contou Maria Luiza. Essa perda urinária não está relacionada às perdas anatômicas ou à quantidade de partos normais pela qual passou a paciente. É, sim, um distúrbio fisiológico e que tem tratamento.
"Elas não precisam sofrer com o problema. Se houver a queixa da perda urinária e o Papanicolau acusar a atrofia vaginal, a primeira coisa a ser feita é contestar seu médico sobre a possibilidade de usar cremes vaginais com hormônios, que costumam solucionar o problema", falou Maria Luiza.
Malhação "nas partes"
Além dos cremes hormonais e o uso de lubrificantes aquosos durante o ato sexual, um dos tratamentos que podem ajudar significativamente o tratamento do envelhecimento vaginal é a fisioterapia uroginecológica. "Por meio de exercícios perineais, conseguimos estimular as glândulas de Bartholin, que são responsáveis pela lubrificação vaginal, para melhorar o ressecamento e exercícios para evitar a atrofia", contou Débora, que é também autora do livro Prazer em conhecer: você acha que sabe tudo sobre sexo?.
Os exercícios praticados durante a fisioterapia não têm contraindicação e podem ser praticados por mulheres de todas as idades, em especial aquelas com vida sexual ativa. Segundo a fisioterapeuta da Clínica Dr. José Bento, tais exercícios seriam os mesmos do pompoarismo, sendo que este é aplicado durante o ato sexual. "A partir dos 40 anos, as mulheres perdem fibras musculares e, com isso, há a queixa de frouxidão vaginal por causa da musculatura que fica flácida, comprometendo o prazer", contou a fisioterapeuta, que explicou que os prolapsos, que são relatados como "quedas" da bexiga, útero e intestino também podem se tornar mais frequentes por causa da flacidez dos músculos vaginais. "Não dói. Muitas mulheres reclamam de um peso no pé da barriga e se ela não se olha, só descobre o problema quando o órgão está visível, quando sai e aí precisa fazer cirurgia para corrigir o problema."
A resposta ao exercício físico varia de acordo com a idade e as atividades são feitas especificamente para o períneo e o canal vaginal. "Ninguém vai saber que ela está fazendo o exercício. Para quem nunca tentou, pode aprender prendendo o jato de urina, mas depois que estiver craque, não deve mais interromper a urina, apenas fazer a contração. Com isso, melhora-se muito a atrofia vaginal, a musculatura do canal vaginal e até a lubrificação", concluiu Débora.