Ter o controle da ejaculação pelo máximo de tempo possível em uma relação sexual é um objetivo masculino.
Quanto mais o homem conseguir adiar esse momento, maior a intensidade do orgasmo quando ele acontece. Mas o desejo nessa hora pode ganhar contornos de pesadelo quando ele demora demais para gozar durante a penetração ou só consegue chegar ao clímax com a masturbação. Essa disfunção recebe o nome de ejaculação retardada e pode acontecer em qualquer momento da vida. Mas, no geral, ocorre desde o início da vida sexual do homem.
"Esses homens normalmente têm boa performance, demoram durante a penetração, as parceiras gostam. Alguns fingem orgasmo e param a relação sem que a mulher perceba. E costumam nos procurar depois de viverem dez, 15 anos com o problema", afirma Sidney Glina, urologista do Instituto H. Ellis, Chefe da Clínica Urológica do Hospital Ipiranga e professor livre docente da Faculdade de Medicina do ABC. O especialista acrescenta que um dos motivos que os impulsiona a tentar uma solução é a vontade de serem pais. “É comum esses homens procurarem ajuda quando casam e surge o desejo de ter filhos porque não conseguem ejacular durante a penetração”, fala Glina.
Quando os pacientes reclamam desses sintomas, os médicos primeiro descartam os problemas de origem orgânica. "Diabete, por exemplo, pode interferir diminuindo a sensibilidade no pênis e o estímulo elétrico que vai dessa região, passa pela coluna e chega até o cérebro. Nesse percurso pode ter algum tipo de alteração", diz Lister Salgueiro, ginecologista e andrologista autor do livro Andropausa: Reposição Hormonal Masculina (Editora Roca). "A diminuição de testosterona, que pode ter mais de 60 causas, também pode causar a disfunção", diz Salgueiro.
Por isso, é comum que a ejaculação retardada também aconteça depois do 50 anos por conta de diabete e andropausa, que é a queda natural da testosterona. Nesses casos, são pedidos exames hormonais e checado o reflexo peniano com eletromiografia, que testa o percurso do estímulo entre o pênis, coluna é cérebro para ver se não há nenhuma lesão.
Além disso, alguns medicamentos podem causar a disfunção. "Esses casos têm sido mais comuns porque as pessoas estão tomando muitos antidepressivos e um dos efeitos colaterais dessas substâncias é retardar a ejaculação", comenta Sidney Glina. Lister Salgueiro acrescenta que calmantes e remédios para pressão alta também podem ter o mesmo efeito.
TÉCNICAS AJUDAM A SOLUCIONAR O PROBLEMA
Para a disfunção com origem em questões psicológicas é necessário fazer terapia com enfoque na sexualidade e com técnicas específicas.
"No tratamento, se investigam as possíveis causas, trabalhamos a formação de vínculos. Se especula as razões da insegurança e o medo da rejeição entre outros vários aspectos", diz Jussania.
A psicóloga costuma indicar a "técnica da ponte", feita durante o ato sexual para alguns pacientes. "Depois da penetração normal o homem retira o pênis, se masturba até próximo de chegar ao clímax e ejacula na vagina".
Maria Claudia Lordello também indica exercícios para seus pacientes.
"Em casos em que o parceiro não consegue ejacular ao lado da parceira é pedido para que ela saia do ambiente para ele se masturbar sozinho. O próximo passo é ele se masturbar com ela ao lado, depois a mulher manipular o homem e, por último, gozar na vagina dela".
Questões psicológicas
Após eliminar a possibilidade de problemas físicos e o uso de medicamentos, o paciente é encaminhado para tratamento psicológico para investigar as causas. E uma delas pode ser a masturbação excessiva. "Ele se acostuma com aquele tipo de estimulo, pressiona o pênis com mais força e não vai encontrar essa pressão na vagina", explica Maria Cláudia Lordello, coordenadora de Psicologia do Projeto Afrodite, o ambulatório de sexualidade da Unifesp. Segundo a especialista, masturbar-se mais de duas a três vezes por dia todos os dias já é considerado excesso e um indício para procurar um especialista.
"Se ele tem uma masturbação muito intensa, pode ter dificuldade de perceber a estimulação da vagina durante a relação sexual por uma menor intensidade de estímulo e isso dificultar a excitação e ejaculação", afirma Cristina Romualdo, psicóloga e terapeuta sexual, autora do livro Masturbação (expressão e arte), mestre em Ciências da Saúde pela Unifesp e orientadora sexual do Instituto Kaplan.
Outro fator que, associado a essa prática em excesso, pode levar à ejaculação retardada é a dificuldade em lidar com pessoas com quem o homem se relaciona. "Alguns têm certa hostilidade e desconfiança emocional com relação ao sexo feminino, por exemplo. Não conseguem relaxar e se entregar para chegar ao orgasmo. A educação sexual muito rígida também pode gerar conflito e ansiedade com relação à sexualidade. Um homem solteiro, que se masturba em excesso e com problemas para interagir terá mais tendência a esse tipo de problema", diz Maria Claudia.
Mas é possível que um homem tenha vida sexual saudável e desenvolva o problema em uma fase da vida como, por exemplo, após uma separação. "O simbólico de uma ejaculação intravaginal é a entrega, confiança. Dependendo de como se deu essa separação, se foi traumática, ele pode não querer se envolver. E nem sempre essa dificuldade de confiar é consciente", comenta Jussania Oliveira, psicóloga, especialista em Sexualidade Humana e autora dos livros Relacionamento, Sexo e Ejaculação (Editora Iglu) e Ejaculação Precoce (Expressão & Arte). "Além de traumas, experiências negativas, iniciação sexual desastrosa e ansiedade podem desencadear a disfunção e ela aparecer em qualquer faixa etária", fala Jussania.
Maria Claudia Lordello explica que o estresse também contribui para o problema. "Pode acontecer eventualmente um período de ejaculação retardada em momentos mais tensos que tende a acabar quando o período terminar". Cristina Romualdo diz que é importante que a parceira seja compreensiva. Caso contrário, o homem vai sofrer ainda mais. "Ele fica mais ansioso, angustiado porque o sexo passa a ser cheio de expectativas e, geralmente, negativas. Vira uma bola de neve".