Sucesso de "Cinquenta Tons de Cinza" atrai curiosos a clubes de fetiche
Em uma noite de sexta-feira, um pequeno grupo de pessoas fazia fila na entrada sem placas do Paddles, um clube em Nova York. Dois homens de cerca de 60 anos discutiam o mercado imobiliário e algumas mulheres na faixa dos 20 anos enviavam mensagens de última hora antes de entrarem no local.
O Paddles não é mais um clube de tênis de mesa da moda, mas um "espaço seguro" para realizar fantasias eróticas, especificamente as de BDSM (sigla em inglês para amarração/disciplina, dominação/submissão, sadismo/masoquismo), de OTK (sigla de "sobre o joelho", em outras palavras, surras) e de outras práticas sexuais que até recentemente passavam amplamente despercebidas.
Devido em parte ao sucesso da trilogia "50 Tons de Cinza", de E. L. James (65 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo, segundo a revista "Publishers Weekly"), as pessoas que são atraídas por uma troca de poder na sexualidade e se referem a si mesmas como "kinky" estão chamando a atenção.
Em fevereiro, "Kink", um documentário dirigido por Christina Voros e produzido por James Franco, estreou no Sundance Film Festival, em Utah. A revista "The Hollywood Reporter" o considerou "um filme amigável sobre pessoas aparentemente razoáveis que fazem coisas terríveis umas às outras diante das câmeras, por dinheiro".
Com isso, alguns "kinksters" da vida real se perguntam se está chegando o tempo em que poderão começar a viver vidas mais abertas e integradas. Mas, ao que parece, esse tempo ainda não chegou. Apesar de o Harvard College Munch, um grupo com cerca de 30 estudantes que se dedicam a interesses "kinky", ter sido oficialmente reconhecido pela Universidade Harvard em dezembro, seu presidente e fundador de 21 anos pediu para não ser identificado. ("Eu me interesso por política", foi um dos motivos que ele deu.)
Uma universitária de 20 anos que se descreve como submissa, de Long Island, perto de Nova York, e pediu para ser citada apenas pelo nome do meio, Marie, disse que foi deserdada pelos pais quando a amante de um parceiro revelou que ela era "kinky". "Eles ficaram loucos", disse Marie. "Acho que temiam que eu me ferisse."
Para aqueles que encontram hostilidade no mundo em geral, porém, há muitos ambientes receptivos a conhecer. No Paddles, há paredes pretas e um mural com uma mulher de desenho animado com botas vermelhas e com seu salto agulha sobre as costas de um homem. As diversas áreas do clube apresentam arreios, correntes, jaulas e bancos onde os participantes podem se encontrar e realizar as "cenas" que combinarem. O coito e o sexo oral não são permitidos no Paddles, mas muitas pessoas estavam sem camisa, sociabilizando sem muita timidez.
Para aqueles que não estão preparados para explorar o "kink" em público, sites de encontros como Alt.com e redes sociais como FetLife permitem que as experiências aconteçam em casa. Fundado em 2008 e baseado em Vancouver, o FetLife adquiriu 700 mil membros no ano passado, elevando seu total para mais de 1,7 milhão, segundo Susan Wright, gerente do site e porta-voz da Coalizão Nacional pela Liberdade Sexual, um grupo sem fins lucrativos de Maryland que trabalha para reforçar a consciência das pessoas "kinky" e defender seus direitos.
É compreensível que as pessoas "kinky" busquem o refúgio do anonimato na internet. Suas preferências podem se tornar um problema em batalhas por custódia ou contribuir para empregados perderem o emprego. Valerie White, da Fundação pela Defesa Legal e pela Educação da Liberdade Sexual, um grupo de defesa sem fins lucrativos sediado em Massachusetts, cita um homem cuja ex-mulher tentou mudar os termos de sua custódia conjunta quando ela soube do interesse dele por sexo "kinky" (eles entraram em acordo).
Susan Wright disse que a coalizão recebe 600 ligações por ano de indivíduos e organizações que buscam ajuda para enfrentar dificuldades legais. Fundada em 1997, a coalizão fez lobby para que a Associação Psiquiátrica Americana atualize as definições de certas práticas sexuais para que deixem de ser consideradas patologias no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. "Somos pessoas perfeitamente comuns, exceto que gostamos de sexo 'kinky'", disse Wright, 49, que é casada há 19 anos.
O grupo também tem uma base de dados de clínicos e assessores espirituais. "Alguns terapeutas dizem que há algo errado com você", disse Charley Ferrer, psicólogo clínico em Nova York. "A maioria das pessoas considera a prática BDSM abusiva: 'Como você pode pedir para alguém bater em você e ficar feliz com isso?' Mas a violência doméstica é totalmente diferente de dominação e submissão."